domingo, 20 de março de 2011

Compactos além do 1.0

Estreante e recheado, o Chery Face encara compactos equipados e com motores que deixam os 1.0 para trás

Compactos além do 1.0
Exigente, racional e capaz de valorizar cada centavo. Vendedores de todas as marcas são unânimes: o comprador de carros que representam o degrau acima dos populares 1.0 é seu cliente mais difícil. Pudera. O orçamento limitado faz com que a racionalidade seja a principal ferramenta para comprar bem aquele que será o único veículo de uma família com três ou quatro motoristas. Gente que está ansiosa para ver se os chineses serão mesmo capazes de enfrentar a concorrência local. Quer saber? Nós também estávamos curiosos. Levamos então o Chery Face e outras sete opções de carros com motor acima de 1.0 e o pacote básico de equipamentos de conforto para esse público exigente: ar-condicionado, direção assistida e travas e vidros elétricos. A nota de corte foi de 40 000 reais e foram selecionadas as opções mais atraentes dentro de cada fábrica.

Prepare-se para um dos comparativos mais parelhos que você já viu. Aliás, como a gente sempre diz, sinta-se à vontade para, no fim, inverter resultados de acordo com as características que você prioriza num carro. Peugeot 207 e Citroën C3 são primos de berço – ambos saem da fábrica da PSA, em Porto Real (RJ) – e ficaram nas duas últimas posições desta batalha. O C3, por muito pouco, não foi barrado na porta: com preço de tabela de 40 320 reais, precisou se valer da nossa tolerância de 500 reais para conquistar o direito de entrar na pista de testes, em Limeira, com os demais convocados. Peugeot e Citroën dão o mesmo péssimo exemplo: são as únicas a fixar um preço sugerido da versão básica cuja única opção de cor sólida é a branca. Ou seja, conte, de cara, com um investimento extra para a compra da pintura metálica. São seis opções em ambas: na Citroën por 710 reais e na Peugeot por 900 reais. Airbag e ABS não combinam com o 207 1.4, que não oferece esses itens nem mesmo como opcional.

Preços tabelados
Para ajudar a evitar surpresas desagradáveis no futuro, este comparativo preparou ainda uma tabela de gastos com revisões, seguro e preço de peças (veja quadro na pág. 67). Se você é do tipo precavido, fique atento com o C3, um dos modelos mais caros de manter do comparativo – 2 583 reais o pacote de revisões até 60 000 km e 2 569 reais a Cesta de Peças QUATRO RODAS.

A Peugeot não dispunha do seu modelo mais vendido para nossa avaliação. A saída foi recorrer ao leitor Cleber Hamilton D’Ângelo, que gentilmente cedeu seu 207 XRS, com 24 520 km e com as duas revisões anotadas no manual (a última feita aos 20 000 km). Teste realizado, todos os resultados ficaram dentro do esperado, exceto o da aceleração de 0 a 100 km/h, em longos 17,9 segundos. A Peugeot foi contatada novamente. Dessa vez, porém, a resposta foi positiva. Começamos exatamente com as provas de 0 a 100 km/h: média de 15,6 segundos. A medida seguinte foi refazer o teste completo. Os demais resultados foram próximos aos da primeira avaliação – a ficha técnica comparativa (pág. 70) apresenta os números extraídos da segunda passagem do 207 por nossa pista de testes.

O Chery Face já havia passado por Limeira, exatamente um ano atrás, em setembro de 2009, quando ainda estava na fase de homologação. Agora, já na versão definitiva, não há tolerância: cada cantinho do carro foi analisado. E não é que a mesma boa impressão se repetiu? Os gaps (vãos) de carroceria não são grandes e indicam uma montagem cuidadosa com o alinhamento entre as partes fixas e móveis. A cabine, no entanto, ainda pede um comprador mais complacente. Não pelo que carrega de equipamentos, afinal o Face é de muito longe o mais completo do comparativo, mas pela qualidade dos materiais empregados. As partes pintadas do console central, por exemplo, riscam com facilidade e a iluminação azul do painel, apesar de contar com regulagem de intensidade, é difusa e compromete a visão dos instrumentos.

Superpacote
Este chinês até tem boa intenção, como prova o tapetinho de borracha dentro do porta-objetos no centro do painel ou o descanso de pé para o motorista. Mas o fato é que ele só deixou a dupla francesa para trás por seu excelente custo-benefício. Por 31 900 reais e com três anos de garantia, o chinês oferece ar, direção, trio elétrico, airbag duplo e ABS. Quer mais? Ele tem. Rodas de liga leve, alarme, sensor de estacionamento, abertura interna de porta-malas e tampa de acesso ao bocal de abastecimento, rádio com entrada USB, ajuste de altura do banco do motorista, do volante e dos faróis, faróis de neblina e barras longitudinais no teto também estão inclusos no preço. Com seu motor 1.3, o Face foi bem melhor que a turma (1.4 e 1.6) em consumo, mas vale ressaltar que ele é movido apenas a gasolina. Na prova de aceleração de 0 a 100 km/h, cravou bons 13,4 segundos. A colocação no pelotão do fundo (sexta posição) se deu por alguns sinais que podem abalar a confiança do motorista – e nada pior que transportar a família num carro assim. Na estrada, a 120 km/h, o carro balança muito com ventos laterais, principalmente ao ultrapassar um caminhão ou um ônibus. A embreagem, quando mais exigida, fica mais pesada e ruidosa, indicando que algum componente pode estar subdimensionado ou mal calibrado.

O Fiesta, quinto colocado, honra sua posição pela discrição. Não é bom de dirigir como o Fox, mas é melhor que o Face. Não é tão equipado quanto o Agile, mas entrega o mesmo que um C3 custando menos. O consumidor, atento, sabe disso. Em 2008, foram emplacados 58 828 Fiesta hatch e 73 017 em 2009, segundo a Fenabrave. No fechamento do primeiro semestre de 2010, foram 39 927 unidades.

A linha 2011 recebeu um retoque visual na dianteira, nada muito pesado. A cabine continua praticamente a mesma, o que pode ser interpretado como um elogio. Há porta-objetos espalhados por todos os cantos, e eles são funcionais como em nenhum outro concorrente, principalmente os que ficam no console entre os assentos dianteiros. Os bancos acomodam bem o corpo, com uma espuma de densidade muito mais adequada que a aplicada nos bancos do Face.

O Fiesta também é maduro e equilibrado na vida após a compra. Seguro, peças e revisões estão na média do segmento, o que garante uma vida sem sustos.

A verdade na rede
A transparência na ação das fábricas também foi analisada. Entramos nos sites de todas as envolvidas no comparativo para ver quem, de fato, joga aberto com seu cliente. Fiat, GM, Citroën, Ford e Renault estão de parabéns: todas disponibilizam os valores das revisões de preço fixo. Às vésperas do fechamento, a Volkswagen divulgava apenas o valor da primeira, com data de validade expirada, numa campanha promocional. A Peugeot também tem todas as informações no site, mas apenas para os veículos com ano-modelo entre 2008 e 2010 – na tabela da pág. 67, consideramos os valores divulgados pela assessoria de imprensa da marca, referentes ao ano-modelo 2011. A Chery, empresa que mais tem a provar para conquistar a confiança do consumidor, trabalha com uma tabela de preço fixo apenas para as três primeiras revisões.

Na versão LT, o quarto colocado Agile é menos interessante que na LTZ, que já chegou a ganhar um comparativo contra Sandero e Fox na edição de novembro de 2009. Ao incluir o pacote com ar-condicionado e direção hidráulica (mais travas e vidros elétricos e alarme), o preço do Agile salta para 40 149 reais, o que por pouco não o tirou da briga. Com o mesmo porte de um Sandero e um motor pequeno como o do Uno, o Agile mostra na pista desenvoltura de 1.6 com consumo de 1.4. Cabine e compartimento de bagagem só podem ser comparados em espaço com o Sandero, ainda que apresente deslizes imperdoáveis de acabamento, como os rebites que prendem a parte inferior do painel à estrutura de sustentação metálica e a ausência de um defletor de calor entre o abafador traseiro do escapamento e o fundo do porta-malas. Piloto automático, computador de bordo e faróis com acendimento automático são os atraentes mimos do Agile. Apesar de mais espaçoso, perdeu (por pouco) para o Uno porque tem preços de revisões e peças mais altos. O alento está no seguro, bem mais em conta.

Carga pesada
O Sandero estaria na mesma condição, porém é mais barato que o Agile, tem três anos de garantia e seu motor 1.6 é mais adequado que um 1.4 para quem anda com o carro carregado. Ou seja, se os passeios em família incluem porta-malas lotado e trechos de subida de serra, por exemplo, prefira os modelos de maior cilindrada, que oferecem um nível de força mais adequado para esse tipo de situação.

Se segura
De acordo com a corretora Nova Feabri, que fez o levantamento do custo de seguro de todos os carros do comparativo, o Uno é o que tem, de longe, a apólice mais cara, 2 530 reais. Na comparação com o Sandero (1 050 reais), o mais barato, isso representa uma diferença de 141%. Ainda assim, o Uno vale a pena. Primeiro porque a tendência é de que, com o passar do tempo, o preço caia, e segundo porque o lançamento da Fiat é o que tem mais baixo custo de manutenção, com o menor valor acumulado em peças e revisões. Não é só. Renascido, o Uno “ficou mais bem assentado, firme e gostoso de dirigir”, como bem definiu o editor Paulo Campo Grande, em maio de 2010, em suas primeiras impressões sobre o lançamento da Fiat.

Na hora de encomendar seu Uno, não se esqueça de pedir junto o Kit Celebration 3, com faróis de neblina, preparação para som, travas e vidros elétricos e, claro, os mandatórios ar-condicionado e direção hidráulica. Ao configurar seu Fox no site da VW, o consumidor encontrará igual liberdade: há pacotes interessantes e uma boa variedade de opcionais livres. Mas vá com calma, pois o Fox é um carro caro na versão básica. Para entrar neste comparativo, conte com um gasto extra de 2 740 reais referentes ao ar-condicionado – a direção hidráulica é de série. Na prática, o mercado cuidou de colocar o Fox no devido lugar. Ou melhor, no devido preço. Com o pacote Prime e o Kit I, que incluem ar, trio elétrico, alarme e uma série de outros agrados menores, o Fox é encontrado por 40 500 reais. Na cola do Sandero, o VW tem o melhor comportamento dinâmico. Apesar da altura da cabine, a carroceria inclina pouco e o comportamento em curva é tão exemplar quanto a capacidade da suspensão de absorver impactos ao rodar sobre um asfalto ruim. Em resumo, o Fox sobra em prazer ao dirigir em relação a todos os seus rivais. Pena que é caro.

Conquista progressiva
E eis que o Renault Sandero, como quem não quer nada, vence o comparativo. Ele não tem o comportamento do Fox, o ineditismo do Uno, os mimos do Agile, os bons porta-objetos do Fiesta, a enxurrada de equipamentos do Face nem mesmo o visual descolado de 207 e C3. Ainda assim, é um carro bom de dirigir, com desenho simples, mas atual, e traz os equipamentos básicos de conforto. Com o passar do tempo, o Sandero vem conseguindo provar suas qualidades para mais e mais pessoas. Em 2008, foram emplacadas 39 631 unidades e, no ano seguinte, outras 49 381. No primeiro semestre de 2010, foram registrados 28 261 veículos. A garantia de três anos, o bom atendimento da rede Renault (sempre bem cotada em Os Eleitos, de QUATRO RODAS) e a cabine espaçosa são os atributos do único modelo deste embate que consegue unir porte avantajado, motor 1.6 e, principalmente, preço atraente.




VEREDICTO

No confronto dominado pelo equilíbrio entre os concorrentes, a vitória do Sandero demonstra a virtude do conjunto, seguido pelo Fox. A pequena grande novidade, o Face, ainda tem que evoluir como produto, mas é inegável o poder de um pacote completo atrelado a um preço baixo.




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