domingo, 20 de março de 2011

CHEVROLET CAMARO X DODGE CHALLENGER SRT8 X FORD MUSTANG GT500

NOS ESTADOS UNIDOS, O ELEITORADO DOS V8 PODE ESCOLHER ENTRE DIFERENTES PLATAFORMAS. POR AQUI, A DISPUTA TENDE A SE REPETIR


Chevrolet Camaro x Dodge Challenger SRT8 x Ford Mustang GT500
As marcas americanas reeditam no Salão do Automóvel deste ano uma de suas mais antigas rivalidades. Os modelos Chevrolet Camaro, Dodge Challenger e Ford Mustang, expostos nos estandes das três marcas, são inimigos desde os anos 60, quando eram chamados de ponycars – por definição, carros compactos (para os padrões americanos da época), com apelo esportivo e preços convidativos. Os relançados (Challenger, em 2008, e Camaro, em 2009) e o atualizado (Mustang, em 2010) estão entre as principais atrações das fábricas. E essa briga só não chega oficialmente às ruas porque a Ford já declarou que não vai vender o Mustang no Brasil. A GM confirmou o Camaro nas lojas até o fim do ano. E a Chrysler ainda está em dúvida. O Salão, uma oportunidade para a empresa avaliar a receptividade do público, será um teste para o Challenger. Felizmente, existem os importadores independentes para promover o confronto para além dos portões do Anhembi. O Dodge Challenger SRT8 mostrado aqui foi trazido pela Talladega Motors e o Mustang Shelby GT 500, pela Dubai Motors, duas lojas da cidade de Ribeirão Preto (SP).

O Mustang foi primeiro pony-car a estourar no mercado. A Ford já havia criado o conceito com o Thunderbird de dois lugares, lançado em 1955. Mas foi com o Mustang, de 1964, que veio o sucesso. E ele foi o único que sobreviveu em produção sem interrupções até hoje. A atual geração é a quinta. O Camaro veio em 1967, foi produzido até 2002 e voltou no ano passado, também na quinta geração. O Challenger estreou em 1969, ficou apenas três anos em cartaz, sucumbindo à crise do petróleo dos anos 70, e voltou em 2008, na segunda geração.

As unidades mostradas aqui e no Salão são todas versões topo de linha e, embora as famílias sejam concorrentes, há entre eles grandes diferenças técnicas, de padrão de acabamento e de preço. O Mustang Shelby GT500 tem motor V8 5.4 de 548 cv, enquanto o Challenger vem equipado com um V8 6.1 que entrega 431 cv e o Camaro, com um V8 6.2 de 406 cv. O Mustang tem câmbio manual de seis marchas. Já o Challenger tem transmissão automática com cinco marchas, enquanto o Camaro, automática sequencial com seis. Em relação a acabamento e equipamentos, o Mustang tem couro no revestimento do painel (com a parte frontal de alumínio), nos bancos (com detalhes de Alcantara) e nas laterais das portas. E vem com controle eletrônico de largada, ESP, faróis de xenônio, kits aerodinâmico e de preparação esportiva SVT (Special Vehicle Team, que inclui as rodas de aro 20 e o escapamento duplo), entre outros itens. Confrontado com os rivais, o Mustang é de longe o mais completo, mesmo diante da lista de equipamentos e da qualidade da cabine do Camaro SS (veja texto na pág. 60). O mesmo ocorre em contraste com o arsenal do Challenger SRT8, que traz bancos de couro/Alcantara e computador de bordo com cronômetro, sensor de aceleração lateral e longitudinal e medidor de distância de frenagem, mas tem acabamento espartano, com plástico aparente no painel e nas laterais das portas. A unidade apresentada no Salão está recheada de outros itens, mas são todos acessórios do catálogo Mopar, ausentes no modelo mostrado aqui.

Não é à toa que o Ford é o mais caro dos três. Na Dubai Motors, o Mustang Shelby GT500 custa 330 000 reais, enquanto na Talladega Motors o Challenger SRT8 sai por 220 000 reais. E as duas lojas oferecem o Camaro SS – por 225 000 reais na primeira e 199 000 reais (uma versão básica) na segunda.

Visualmente, cada um tem seu charme. O Challenger parece saído de um coleção de hot cars Matchbox, em escala 1:1. O Mustang é dono do visual mais anabolizado, com ressaltos no capô e nos para-lamas. E o Camaro desfila seu design bem cuidado com vincos suaves que detalham até os retrovisores externos.

Para quem está acostumado a dirigir carros de inspiração europeia, comandar um pony-car é uma experiência curiosa. Enorme espaço interno, suspensão macia apoiada em pneus de perfis altos e direção nem sempre firme costumam chocar quem foi criado em carros com cabine apertada, bancos duros e comportamento dinâmico correto. Mas os americanos já não são mais os mesmos. Não é de hoje que a indústria de lá observa os motoristas do resto do mundo. E os carros apresentados aqui são esportivos.

O Camaro, por exemplo, nos surpreendeu pela capacidade de contornar curvas. O Mustang poderia ser dirigido em uma Autobahn sem aborrecer um motorista alemão. A posição de dirigir é bastante esportiva. Os bancos apoiam bem o corpo e os pedais estão corretamente posicionados. A alavanca de câmbio está a um palmo do volante. Seus engates são curtos, bem como as relações de marcha. E a força do motor é transbordante. O entre-eixos curto colabora nas manobras mais rápidas. O Ford não é tão equilibrado quanto o Camaro nas curvas. O eixo rígido, na traseira, não apoia tão bem o carro na pista quanto o sistema multilink do Chevrolet, deixando a traseira mais solta. Também perde em rigidez estrutural. Ao passar por desníveis no caminho, nota-se que a carroceria trabalha e sente o movimento da suspensão. O Challenger, por sua vez, fica em um patamar intermediário, quando se analisa a rigidez da carroceria, e apresenta comportamento diferenciado. Nas arrancadas, ele lembra os antepassados, levantando a frente graças à suspensão solta na vertical. Mas na hora de frear e de fazer curvas se comporta equilibrado como um carro europeu. E esse comportamento não é por acaso. O ar americano é proposital, veio da calibragem de seus sistemas. E o jeito europeu, mais precisamente alemão, do desenvolvimento feito no tempo em que a Chrysler pertencia à Daimler. O Challenger foi baseado na plataforma do antigo Mercedes-Benz Classe E, produzido entre os anos de 1996 e 2002. Na suspensão, o Challenger conta com estruturas do tipo duplo A na dianteira e multilink na traseira.

A essa altura você deve estar pensando: muito bem, mas qual deles é o melhor? Ora, caro leitor, pergunta difícil, essa. Mas posso dizer que, na impossibilidade de abrigar os três, reservaria a vaga da garagem para o Mustang, ainda que com dor no coração pelo Camaro, com seu refinamento técnico e visual, e pelo Challenger, com todo seu charme e DNA alemão na plataforma.


CHALLENGER 
Motor: dianteiro, longitudinal, V8, 16V 
Cilindrada: 6 059 cm3 
Diâmetro x curso: 103 x 90,9 mm 
Potência: 431 cv a 6 200 rpm 
Torque: 58 mkgf a 4 800 rpm 
Câmbio: automático, 5 marchas, tração traseira 
Dimensões: largura, 192 cm; comprimento, 502 cm; altura, 145 cm; entre-eixos, 294 cm 
Suspensão: Dianteira: duplo A Traseira: multilink 
Freios: discos ventilados, com ABS 
Direção: hidráulica, pinhão e cremalheira 
Pneus: 245/545 R20


MUSTANG 
Motor: dianteiro, longitudinal, V8, 32V, compressor 
Cilindrada: 5 409 cm3 
Diâmetro x curso: 90,2 x 105,8 mm 
Potência: 548 cv a 6 200 rpm 
Torque: 70,6 mkgf a 4 500 rpm 
Câmbio: manual, 6 marchas, tração traseira 
Dimensões: largura, 188 cm; comprimento, 478 cm; altura, 141 cm; entre-eixos, 272 cm 
Suspensão: Dianteira: McPherson Traseira: eixo rígido 
Freios: discos ventilados, com ABS 
Direção: elétrica, pinhão e cremalheira 
Pneus: 225/45 R20, frente, 285/40 R20, atrás


VEREDICTO 
O Challenger é tecnicamente mais sofi sticado. Mas o Mustang é mais potente e bem equipado.

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